De volta para casa…
Vez ou outra sentimos um vazio, como um “buraco” dentro de nós que, em alguns momentos, acabamos preenchendo da melhor forma que conseguimos naquela oportunidade, naquela altura da vida e ponto de nossa caminhada.
Encontramos a solução para o vazio comprando, para sentir o prazer de ter, comendo para tentar “saciar a fome”, buscando o sexo como fonte de felicidade ou poder, cultuando o corpo físico para sentirmo-nos mais belos, mais desejados e, portanto, mais felizes. Outros, vão achar que a saída está na bebida ou nas drogas, por não saberem lidar com suas questões internas que despertam essa sensação de vazio, de “buraco”, do “nada”. São estas as maneiras, dentre outras muitas, que cada um (ou uma) busca para preencher esse estado muitas vezes difícil de sequer ser percebido por quem o vivencia.
Mas o que se percebe mesmo é que estas saídas, que buscamos por vezes inconscientemente, com o tempo se mostram ineficientes por não nos preencherem, por não nos saciarem e por apenas nos darem um prazer momentâneo, uma falsa felicidade, uma satisfação transitória.
Há tempos venho entendendo, reconhecendo e acolhendo esse vazio como a falta de sentido e de significado que temos na nossa vida. E após esse final de semana, nos dias 14, 15 e 16 de maio de 2016, em mais uma Imersão com os irmãos Roberto Crema e Kaká Werá, acrescento: a falta de conexão com a nossa essência divina, com a nossa essência de alma. Embora não fosse uma novidade, foi só agora que tive a oportunidade e as ferramentas para sentir todo esse processo em minha própria “pele”. Essa Imersão fez com que me conectasse com o meu Eu maior, com o Divino que habita em mim. É com o coração transbordando de alegria que afirmo que pude me devolver a mim mesmo.
Vivemos momentos de transição planetária, o “coletivo” está um caos em todas as dimensões, em especial na política e na economia do nosso país. E, por estarmos inseridos nesse contexto, mesmo quando escolhemos não estar, sofremos com a energia densa e pesada naturalmente gerada, pois nada é separado de nada. Pertencemos ao TODO e o TODO nos pertence. TODOS somos UM e estamos TODOS interligados, minimamente, pelo ar que respiramos, pelo sopro que nos dá (e nos tira) a vida humana.
Mesmo quando já estamos numa caminhada em busca pelo autoconhecimento, mesmo quando nos consideramos despertos e, consequentemente, aptos a conseguir olhar todo esse caos de cima ou de fora, entendendo que é no coração do caos que surge a nova ordem, acabamos nos abalando de alguma forma. E aprendemos que, para que o caos seja minimizado ou não nos afete, é preciso estarmos mais do que despertos: é preciso estarmos atentos e conectados com nossa essência e com nossos propósitos. É preciso cuidarmos de nossa presença. É preciso cuidarmos da qualidade da nossa atenção e da nossa intensão. Já dizia o mestre maior: é preciso orar e vigiar.
Há pouco mais de seis meses, com a chegada do Jeová, meu filho, uma benção em nossas vidas, passei a lidar com todas as questões naturais que envolvem a inserção, a adaptação e a integração de um SER (este, já com oito anos de uma trajetória de vida em sua bagagem, uma vida, aliás, dura) numa relação de casal de doze anos em comum. Naturalmente, como ocorreria com qualquer outro casal, surgiram muitas questões, que ainda estamos aprendendo a lidar.
Mas eu, pessoalmente, tive que lidar com a morte e o luto de um Gustavo que já não existe mais, e isso ninguém nos conta. Tive que lidar com o arquétipo do Pai que me tornei da noite para o dia, literalmente. Tive (e tenho) que lidar com a criança ferida que me habita (e que só encontrava de vez em quando nos encontros terapêuticos), todos os dias, ao olhar para o Jeová, pois ele ilumina, com seu olhar peculiar e seu sorriso lindo, toda a sombra e a dor de uma criança que já foi rejeitada de alguma forma e que passou a vida buscando ser perfeita para ser aceita e amada…
Contextos como esse, inseridos no caos coletivo e com a chegada da meia idade, me engoliram de tal forma que fui levado a uma desconexão de mim mesmo. Uma desconexão da minha alma e, consequentemente, o surgimento do grande vazio à que me referi no início deste post, aquele “buraco” que dói mais que um soco real no estômago. Imagino que reconheçam essa sensação, não é mesmo?
Pois eu tenho mais de dezesseis anos de caminhada pelo autoconhecimento e estava me sentindo desse jeitinho, como há muito tempo não me sentia, sabendo que precisava preencher essa sensação dentro de mim, e não era comendo, não era consumindo, não era bebendo e nem mesmo viajando, coisa que mais amo fazer na vida.
Ao menos sabia que não era desse tipo de viagem, que amo tanto, que estava precisando fazer, não nesse momento. Eu precisava viajar, mesmo, era para dentro de mim, para as profundezas da minha alma, para me reencontrar, para me reconectar. Precisava da sensação (nesse momento, só da sensação) de voltar para casa, voltar para os braços da grande mãe e do pai maior e, dessa forma, me sentir cuidado, amado e fortalecido, pois é essa sensação de “estar em casa” que me preenche, é essa sensação que faz a minha alma vibrar. A sensação e a vibração do amor, do amor incondicional, do amor divino. Sem sombra de dúvidas, o amor é o alvo de todos os alvos.
E foi com essa intenção, a intenção de voltar para casa, que decidi aceitar o convite para a Imersão com Roberto e Kaká, no Sul do nosso país, mais precisamente no Holoíkos, em Boa Vista do Sul, uma das cidadezinhas que compõe a Serra Gaúcha.
Num primeiro momento, foi estranho pegar um avião para Porto Alegre, com a sensação de querer voltar para casa, e sem sequer ter tempo de visitar a minha amada mãezinha, meus irmãos, meus sobrinhos e meus amigos que lá vivem. Porém, quando cheguei no local da Imersão, tive a certeza e a clareza de que estava voltando, simbolicamente, para minha casa de origem, a casa para onde todos nós voltaremos um dia no tempo justo, para a fonte de tudo, para o sagrado, para o divino que nos habita.
Sou profundamente grato às minhas irmãs de alma Rosemari e Inês, pela oportunidade, e aos irmãos Roberto e Kaká, que conduziram mais essa Imersão com a maestria que lhes é naturalmente peculiar. Gratidão, também, pela presença e pela confiança da minha amiga e irmã do coração, Paola, por ter aceitado o convite para esse Encontro.
Sinto-me plenamente grato e abençoado por mais essa experiência na vida, por ter sido conduzido e tocado por esse grande mistério. Sinto não poder encontrar palavras para nominar o inominável, porém, é sempre bom ter a certeza de que tudo passa, exceto o amor. E é esse amor que precisamos fazer transbordar para, então, servir. Servir e amar. Amar a nós próprios, antes de mais nada, para só depois termos como compartilhar o amor com quem nos cerca e, assim, servir de meio para que outros sejam tão felizes como nós ao enxergar em cada vazio, em cada “buraco”, em cada “nada” que sentimos uma oportunidade de crescimento e evolução.