Impermanência – Um até breve Karen

Minha amiga, minha irmãzinha, ao nos deixar para voltar aos braços do Pai e para o colo da nossa grande mãe, saiba que você me deixou um verdadeiro e profundo legado.

Primeiro, sobre a (nossa) amizade. Uma amizade que nasceu em Santa Maria, nossa cidade natal. Uma amizade de longas datas. O grande mistério, que nos aproximou, nos deu a oportunidade de fazermos muitas coisas juntos, até mesmo de não fazermos nada também, mas juntos. Naturalmente, o tempo foi passando, fomos nos distanciando por conta de nossas escolhas e também para cumprirmos nossas trajetórias de vida e predestino. Obviamente, você foi para um lado e eu para outro.
O grande legado é que essa distância nunca atrapalhou nossos sentimentos. O amor de amigo que não julga, o carinho que acolhe, o respeito por sermos quem somos, a admiração que sentíamos verdadeiramente um pelo outro, mesmo com toda distância física e com o tempo que ficávamos sem nos falar. Consciente e inconscientemente, não tínhamos essa necessidade, pois já havíamos entendido que o verdadeiro sentimento de amor, aquele que não julga, não morre jamais. Não morre com a distância, não morre com o tempo, e não morrerá com a morte, pois a morte não existe e você deve saber disso agora.
Como humano que somos, a morte nos desperta, num primeiro momento uma grande dor. A dor da perda, um desconforto que nos impacta e nos dilacera internamente. Um choque que nos chama para a realidade da vida e para a forma como a estamos vivendo. Um chamado para lembrarmos de nossa impermanência por aqui e por tudo que ainda precisamos nos desapegar.
E esse foi outro profundo legado que me deixa.
Vivemos tão imersos em nossas questões humanas (alguns nem tanto, pois esqueceram de ser humano) e acabamos esquecendo da impermanência da vida e o quanto estamos longe de nos desapegarmos. Falamos pela ultima vez, no último fevereiro em Florianópolis. Tivemos a oportunidade de nos encontrarmos fisicamente e não aproveitamos, por conta da dinâmica em que estávamos inseridos. Queria tanto ter apresentado meu filho a você, mas deixamos que essa dinâmica em que estávamos vivendo ali, nos atrapalhasse. Tinha tanta certeza dentro de mim que em breve, muito breve nos encontraríamos novamente. Nem se quer passou pela minha cabeça que ali havíamos perdido a oportunidade de um último abraço, de uma última conversa “daquelas” com direito a colocarmos todos os nossos silêncios para fora. Porém, essa conversa já esta acontecendo. E eis aqui um outro legado que me deixa.
Você me deixa a certeza de que esta viva. Esta tão viva dentro de mim, que chego a sentir você aqui com seu jeito lindo de ser, com sua forma única de falar, escuto você me chamar carinhosamente de “Gugu”, um apelido que só as pessoas da minha família e os grandes amigos íntimos de longas datas que me chamam. Olha você fazendo eu me expor aqui… Estou em lágrimas, de tão forte que esta o sentimento de sua presença. Sei que, por aqui, nesse mundo terreno, tridimensional, não poderei mais te abraçar, mas não tenha dúvidas que assim que chegar a minha vez de partir, quero que esteja lá de braços abertos para dar o abraço que perdemos a chance. Porém, se prepare, pois daqui pra frente, conversaremos muito, pois sua presença seguirá firme e forte dentro de mim. Tenho certeza que, antes de chegar a minha vez de voltar para casa, nos encontraremos no mundo dos sonhos, no mundo sutil e por favor, me explique tudo o que aconteceu e me conte tudo como estão as coisas por aí.
Minha amiga, essa imagem acima, foi de nosso último encontro físico em dezembro de 2011. Estávamos há muito tempo sem nos vermos e nos falarmos. Saiba que foi um final de semana maravilhoso junto com a nossa amiga Lulu Valadão. Esbanjávamos alegria. Foi simplesmente inesquecível, você, como sempre, uma excelente anfitriã, uma amiga dedicada e verdadeira que acolhe, escuta e não julga.
Desejo que essa passagem lhe ajude a encontrar as respostas que tanto buscava. Desejo que seus sentimentos de dor se harmonizem. Desejo que no meio de tanto amor incondicional que esta vivendo nos braços do Pai e no colo da grande mãe, que você possa seguir o seu caminho. Siga seu caminho esbanjando seu charme e sua beleza na luz. Emane amor incondicional e alegria pra todos nós que ficamos por aqui. Admiro a sua coragem (ação do coração) de voltar para casa, de voltar para a mundo real, o mundo que verdadeiramente existe, o mundo de onde viemos. Saiba que você foi uma pessoa muito, mas muito amada por aqui. Fique em Paz. A paz que tanto buscou. Até breve!