O CIT
Por Roberto Crema
A tarefa considerada primordial para os Terapeutas era cuidar, já que é a Natureza quem cura. Antes de tudo, cuidar do que não é doente em nós, do Ser, do Sopro que nos habita e inspira. Também cuidar do corpo, templo do Espírito, cuidar do desejo, reorientando-o para o essencial; cuidar do imaginal, das grandes imagens arquetípicas que estruturam a nossa consciência e cuidar do outro, o serviço à comunidade, implicando o próprio centramento no Ser.
O Colégio Internacional dos Terapeutas é uma resposta, ousada e lúcida, ao momento crucial de passagem que a nossa família humana atravessa, agonia de dores, alegrias e louvores, parto de uma nova consciência para um renovado existir consigo, com o outro, com a natureza e o Totalmente Outro.
Como afirma o seu mentor, Jean-Yves Leloup, o Cit é mais uma inspiração que uma instituição.
Trata-se de uma Rede de Terapeutas, que se agregam para a tarefa premente de um cuidado integral, a partir do estilo alexandrino, uma via aberta e inclusiva de abordar o fato da crise, do sintoma e do sagrado, escutando-o e interpretando-o através de diversos e complementares níveis de realidade e de percepção, suportada no emergente paradigma transdisciplinar holístico.
A partir de uma visão de ecologia profunda e de uma redefinição de saúde como um estado de bem-estar psicossomático, social, ambiental e espiritual. Postulada pela própria Organização Mundial de Saúde, reconhecemos três categoria de terapeutas: a clínica, a social e a ambiental.
As funções básicas, para as quais nos convocamos, são as da escuta, da hermenêutica, da ética da bênção e do sorriso, que recoloca o ser humano na sua condição de Sujeito, o que constitui uma necessária ressignificação do terapeuta como um suposto cuidar. A tarefa de ser agente de saúde, portanto, é democratizada e estendida a todo ser humano, que se importa com o bem-estar de si, de todos e de tudo: cuidar, cuidar-se.
O que nos conecta fundamentalmente, no CIT, são Dez Orientações Maiores, a saber:
AS DEZ ORIENTAÇÕES MAIORES DO CIT
1. O postulado antropológico, que é também uma ontologia e uma cosmologia, acolhendo as diversas dimensões existenciais do corpo, da alma e da consciência, atravessadas pela Essência da Vida. Trata-se de um olhar aberto para a inteireza do Anthropos, que alia e concilia o infra-humano e o supra-humano, no vasto coração do humano.
Esclareça sua imagem acerca do ser humano, para escapar da dinâmica cega do inconsciente; assuma a responsabilidade por sua visão, atualizada e plena do humano, pois é ela que determinará a sua atitude frente a você mesmo, ao outro, à humanidade, ao Universo e ao Mistério!
2. Uma ética da bênção, que é também uma ótica de bem olhar e uma delicadeza de bem dizer, que respeita o outro na sua condição de Sujeito, jamais o reduzindo a um rótulo ou a um sintoma, reconhecendo a sua dignidade de semblante original. Fazer aliança com o Essencial, com a chama de uma Vitalidade, a partir da qual uma dinâmica de saúde e de plenitude é posta em marcha.
Abra-se para a Luz que existe subjacente a tudo e a todos; o olhar e a fala são estruturantes: tornamo-nos aquilo que dizemos e para o qual olhamos!
3. O silêncio, que emana da vinculação com o lar do agora, o exercício de uma prática meditativa no cotidiano que possa nos centrar e nos abrir ao bem indizível da Presença. Praticar diariamente a holopráxis, uma via de despertar para o Ser, para a transcendência, que emane de uma tradição sapiencial autêntica, ocidental ou oriental.
Habite o deserto fértil da Pausa, transcendendo os diálogos internos, a ilusão do passado e a ficção do futuro, que nos exilam do Instante que é o Real, pátria do Encontro, oásis do Ser!
4. O estudo, analítico e sintético, ou seja, dos textos científicos contemporâneos e dos textos da sabedoria perene, para uma permanente atualização, através do cultivo dos hemisférios complementares, do saber e do ser.
Exercite, no cotidiano, a arte de nutrir nossas duas inteligências, a diabólica – que divide – e a simbólica – que religa -, o princípio masculino e o feminino, para ser capaz do Tao da compreensão!
5. Gratuidade, exercício de solidariedade e de doação desapegada, no dia-a-dia, para o bem do semelhante, da sociedade e do universo. Praticar o serviço, viço do Ser, que nos abre para o estatuto de Dom, do alimento que tem fome de se oferecer e de nutrir, a todos e tudo.
Pratique a bênção da doação, do semear incondicional que não visa à colheita, da gratuidade que nos eleva à pátria da Fonte e da Abundância, pois apenas o que ofertamos constitui células de nosso corpo de leveza e de eternidade!
6. Reciclagem, um compromisso de vivenciar, anualmente, um tempo generoso de recolhimento no deserto do novo, além do espaço familiar do local onde habitamos. Um distanciamento salutar e transcultural, para uma revisão, reflexiva e meditativa, da jornada existencial, visando um processo de renovação e de evolução.
Ouse investir no potencial do inusitado, dando férias ao cotidiano, para reencontrar-se no desconhecido, o que favorecerá uma clareza de olhar e uma qualidade de escuta, para deixar morrer o obsoleto e florescer no agora!
7. Reconhecimento da incompletude, do inacabamento, que conduza à humildade e responsabilidade de se fazer acompanhar por outra escuta terapêutica. Para evitar o risco da inflação egóica, do julgar-se pronto e auto-suficiente, que estanca o processo contínuo de aprendizagem e de aperfeiçoamento.
Exercite a disciplina do discípulo, o perene aprendiz da Vida, buscando alimentar-se no Maná do Outro, no passo nosso de cada dia, cuidar-se para cuidar!
8. Anamnese essencial, um registro sistemático das experiências numinosas, na vigília e no sonho, que evidenciam a presença do Sagrado no viver cotidiano, do Essencial no existencial, do Infinito no finito, da Eternidade no tempo. Acolher, com atenção e reverência, os beijos do Mistério da Vida que nos toca, inesperadamente, no segredo do labirinto do existir.
Assuma a autoria do Livro do Deslumbramento, anotando os momentos culminantes e estrelados, quando a taça da existência transborda com o néctar do Numinoso, encanto e espanto do Ser que nos convoca a Ser!
9. O despertar da Presença, a tarefa de lembrar o que realmente somos, do Absoluto que fundamenta o relativo em nós, do Instante que nos recria, através da atenção na respiração, da invocação e evocação dos mantras e nomes sagrados, do clamor pelo Que É, que nos liberta e nos impulsiona à trilha da realização.
Ancore-se na Plena Atenção, respirando e se deixando respirar pelo Grande Sopro, para que haja Vida no seu existir!
10. Fraternidade, o abrir-se para o outro, os outros, visíveis e invisíveis, através de um ritmo de encontros, fonte de sinergia e alquimia. Para o estudo partilhado, a celebração, o canto, a prece, o poema, a dança da parceria, a comunhão meditativa. Através da Solidão do Ser, solidarizar-se…
Convoque-se à alquimia da sinergia, para a conexão com os reinos da parte e do Todo, já que ninguém ensina ninguém a cuidar e ninguém aprende a cuidar sozinho; aprendemos a Arte de Cuidar no Encontro!
Na escuridão da noite planetária que atravessamos, no pressentimento de uma manhã ensolarada e de um oásis secreto a nos aguardar e redimir no tempo justo, nossa tarefa é a de seguir adiante. Peregrinar sempre, repousar no orvalho da pausa, despertar no Instante, ser agente de um cuidado integral e sorrir para o Grande Mistério da Vida. Em marcha!
Para saber mais sobre o CIT, acesse: https://citbrasil.wordpress.com